28 janeiro, 2015

Agricultoras solicitam momentos de formação para ampliar conhecimentos

Foi realizado um dia campo. A atividade aconteceu na Comunidade Mandacaru.

Por Daiane Almeida

As mulheres agricultoras de Serrinha apresentam e comercializam os produtos de seus quintais na Feira Agroecologia, espaço que conquistaram e que hoje dividem com a feira tradicional do município. Interessadas em ampliar seus conhecimentos sobre técnicas de produção e tirar dúvidas, elas solicitaram que fosse realizado momentos de formação, principalmente aquelas que não recebem assistência técnica. A APAEB Serrinha em parceria com o MOC realizou dois dias de campo com as agricultoras. O primeiro aconteceu dia 19 de janeiro, e o segundo no último dia 26.

O dia de campo é uma metodologia que envolve prática, onde as pessoas interagem e tiram dúvidas, trocam experiências. No dia 26 a atividade aconteceu na casa de Dona Catarina dos Santos, lá, as agricultoras das comunidades Canto, Salgado, Vertente, Mandacaru, Recanto e Sucupira 2,  aprenderam algumas técnicas como o canteiro econômico, a batata de salvação, o canteiro candeeiro, compostagem e curtição do adubo.

Cerca de  30 pessoas participaram da atividade, entre elas, Roseli Silva, da Comunidade Sucupira, segundo ela é preciso correr atrás do conhecimento. “Eu fui disposta a ensinar algumas coisas e acabei aprendendo muito mais. A horta econômica eu já conhecia, mas de outro jeito. É importante aprender coisas que você não sabe, conhecer tecnologias e correr atrás do que a gente ainda não tem, buscar conhecimento”.  Na barraca que ela ocupa na feira agroecológica é possível encontrar frutas e hortaliças todos os sábados pela manhã.

As mulheres contaram com a contribuição de Edcarlos Almeida, técnico que facilitou esse momento de troca de conhecimentos, que
explicou quais materiais são necessários e qual a utilidade de cada uma para a produção de alimentos e gestão da água. Durante entrevista para o blog da APAEB Serrinha ele explicou com detalhes:


Daiane Almeida - Qual o objetivo de realizar um dia de campo com os agricultores?

Edcarlos Almeida - Os agricultores estavam com duvidas sobre a quantidade adubos, controle de pragas percebemos que eles estavam com dificuldades, então a atividade foi pra contribuir nesse sentido, e com o foco na agroecologia.

D. Almeida - Como se faz um canteiro econômico e qual a sua utilidade?

Canteiro econômico



E. Almeida – Conversamos e fizemos na prática o canteiro econômico. Utilizamos bloco, lona, cano pvc, telhas, joelho, cap, palhas de feijão, terra vegetal (quixaba), esterco de ovelhas. Ele é chamado econômico ou água no ponto certo, pois tem o objetivo de economizar a água e o tempo, já que a família não precisa perder tempo regando o canteiro. Outro objetivo do canteiro é que no período chuvoso é possível drenar a água caso o terreno seja inundado.


D. Almeida - Por que importante curtir o esterco antes de usar diretamente como adubo na hortaliça?

E. Almeida - Por que ele não consegue cumprir sua função sem passar pelo processo de curtição. Escolhemos um local com sombra, colocamos uma quantidade de esterco, molhamos e reviramos durante 12 dias, ao final desse tempo ele perde o cheiro forte de urina e adquire o cheiro de capim molhado, quando chega nesse ponto já pode ser utilizado.

D. Almeida - Como deve ser feita a compostagem?

E. Almeida - Escolhemos um local a sombra, começamos com uma camada de esterco, em seguida uma camada de folhagem verde, restos de comida, casca de fruta, restos da horta, alternando esse material.  A cada camada, devemos colocar água. Ao final ele fica em forma de pirâmide. Após oito dias descansando faz a primeira viragem . Lembrando que antes da viragem coloca alguma ferramenta de trabalho como vergalhão ou até mesmo facão no meio da compostagem por período de 10 minutos para sabermos a temperatura e como está se dando o processo de decomposição.
Após esse tempo se a ferramenta estiver muito quente ao revirarmos devemos jogar mais água, se estiver frio devemos colocar esterco fresco, se estiver morno significa que o processo de decomposição está indo bem. Repete-se essa observação a cada 05 dias. Após 70 dias ou o desaparecimento de todos os seus ingredientes, a compostagem poderá ser usada na adubação.
Canteiro candeeiro

D. Almeida – Como funciona a técnica do Canteiro Candeeiro?

E. Almeida - O material utilizado é uma garrafa pet e um pavio que pode ser feito com pano. Corta-se a garrafa ao meio, na parte afunilada, que corresponde a boca da garrafa, põe-se o pavio, passando pelo gargalo até a sua extremidade, coloca-se  terra vegetal adubada. Na parte cortada que corresponde ao fundo da garrafa, será colocada água e servirá de  suporte da parte afunilada. Lembrando que o pavio deverá ter contato com a água. Podemos plantar na parte afunilada diversas hortaliças como alface, coentro, cebolinha, hortelã, pimenta, pimentão entre outros.  O pavio irá transportar a água para as raízes dessas culturas.


D. Almeida – A batata de salvação é uma técnica que também utiliza a garrafa pet, qual a sua utilidade e como pode ser praticada?

Batata de salvação
E. Almeida - Ela serve para molhar as raízes de plantas frutíferas. O material utilizado é uma garrafa pet, isopor, canudo  e um pavio. É preciso fazer um pequeno furo próximo ao gargalo ou “pescoço” da garrafa onde será introduzido o pavio. Um pedaço de isopor é colocado dentro da garrafa, em seguida é furado pelo canudo, formando uma boia. Através dessa boia é possível saber o nível da água. A batata-de-salvação é colocada dentro da cova da árvore frutífera, logo no ato do plantio. Ela funciona da seguinte maneira: o pavio transportara a água de dentro da garrafa para as raízes, que aproveita somente o necessário para a sua sobrevivência e produção de seus frutos, num processo de capilaridade. Caso o canudo esteja baixo, significa que a garrafa está seca e necessita repor a água pela abertura da garrafa.

D. Almeida – Qual a sua avaliação sobre o dia de campo?

E. Almeida - Diante de todo o trabalho durante o dia, as agricultoras expuseram suas ideias, dificuldades, e suas dúvidas nos seus processos de produção de alimentos dentro do seu sistema produtivo familiar. Dentro das reuniões de planejamento e discussões da feira éramos muito questionados para uma formação sobre produção de alimentos agroecológicos, controle de pragas, plantio, transplante e colheita. Surgiram sugestões de realizarmos mais formações, também sobre manejo de pequenos animais. Foi um momento muito rico de participações e troca de experiências entre as agricultoras.