‘’Acesso água aqui é só por caminhão pipa, e
de cisterna de beber. Não temos água encanda. Essa cisterna será mais um
reservatório para poder produzir e guardar água no período da seca’’, diz dona Cleide
da comunidade Lagoa dos Bois do município de Nordestina.
Dona Cleide é uma das 26 famílias
que participaram do curso Sistema Simplificado Para Manejo de Água - SISMA no último
dia 17 a 18 de julho na comunidade Lagoa dos Bois, em Nordestina. A comunidade
assim como muitas na região sofre com a falta de água, mas esta realidade aos
poucos vem mudando, pois muitos destes agricultores/a tem percebido que é
possível conviver e produzir no semiárido mesmo no período de pouca chuva. Além
das famílias estarem conquistando tecnologias que auxiliem na convivência com o
semiárido, ainda passa por cursos promovidos pelo Programa Uma Terra e Duas
Águas – P1+2 que assessoram na transformação desta realidade.
Neste último curso, o SISMA, agricultores/a tiveram
a oportunidade de partilhar conhecimentos saberes e experiências.
No primeiro dia de curso agricultores/a
visitaram a casa da Dona Damiana, qual conquistou uma cisterna enxurrada, onde
fizeram ao redor da cisterna canteiros e em seguida plantaram plantas
frutíferas, como acerola, caju, manga, entre outras. Enquanto plantavam, o instrutor
do curso falava qual se adaptava melhor naquela região, quanto tempo demoraria
em dá seu primeiro fruto, entre outras curiosidades perguntadas pelos
agricultores/a. Ao longo das perguntas muitos citavam experiências vividas por
eles, algumas com sucessos outras não, estas últimas, logo queria saber o que
deu errado, muitos desses questionamentos sanados entre eles mesmos.
No segundo dia o tem foi
enxertagem. Todos queriam saber como era possível uma cultura mesmo sendo da
mesma família dá fruto em tão pouco tempo. Na ocasião, o coordenador Moisés Inácio, explicou e exemplificou. Foi falado também em compostagem e em diferentes tipos
de adubos.
Muitos dos presentes criam
animais, e pretendem investir futuramente após a cisterna ficar pronta, seu Geraldo, por
exemplo, é um dos agricultores exemplos da comunidade. Na propriedade dele,ele já desenvolve uma estratégia para driblar a longa estiagem e não deixar o gado passar
fome, a qual fez questão de compartilhar com os demais agricultores/a. Na manhã
do terceiro dia de curso as famílias partiram para a propriedade de seu Geraldo
onde desenvolveram silo e feno, rações feitas a base de palhas de milho,folhas de leucena entre outras riquezas, que bem armazenadas resistem a mais de 6
meses.
A alegria e empolgação dos agricultores/a
em aprender algo novo, algo que com certeza vai ajudar a conviver melhor na
região deles, estava estampada no olhar de cada um, a cada palha, a cada folha
que eles jogavam na máquina de triturar era um brilho diferente que brotava das
suas faces.
O curso não passa apenas técnicas
e práticas de como conviver no semiárido com dignidade e de forma produtiva. Os
cursos do P1+2 também despertam e instigam o resgate da cultura regional e
local. Na comunidade Lagoa dos Bois, existe um tradicional grupo de samba, que
durantes os meses de janeiro de fevereiro faz a festa com seus sambas de raiz e
Reis.
Seu Geraldo, um dos integrantes e
puxadores do samba, fala com emoção e gosto de fazer parte desse grupo e da importância
de não perder essas raízes, essa tradição que eles custam a preservar.
‘’São seis pessoas que compõem o
grupo de samba. As letras algumas são nossas. Outras são Reis antigos. Essas tradições
são boas demais. É muito valoroso e muito bonito, tanto para quem ta fazendo
para quem ta vendo aquela batucada do pandeiro. Um passa por outro, o outro
passa para o colega e assim vai,faz uma roda boa. Uma pena o jovens não participar
(sic) muito. Alguns acompanha (sic), mas não muito’’.
O batuque do samba como seu Geraldo
falou animou e contagiou a todos os presentes que não pensaram duas vezes e
entraram na roda para sambar ao som das cantigas de reis e dos sambas do grupo
da comunidade de Lagoa dos Bois.
Trecho de um dos sambas entoados
pelo grupo:
’’palmeia,
palmeia,quero ver palmear, palmeia,palmeia, quero ver palmear.
Oh! levanta mulher corre a roda,quero ver ela
correr’’