27 junho, 2014

Uma soma de saberes:cursos do P1+2 despertam o sentido do aprendizado

O momento em que os agricultores e agricultoras se encontram para participar dos cursos do Programa Uma Terra e Duas Águas é aproveitado por eles para adquirir novos aprendizados e trocar conhecimentos

Quem achava que não tinha mais nada para aprender, quando chega a um dos cursos do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) se surpreende com o quanto ainda tem a aprender e o quanto ainda pode ensinar. Dona Antonina de Souza Carvalho, moradora do Povoado de Canto, é um exemplo disso. Ela esteve participando entre os dias 25 e 27 de junho do curso de Manejo Simplificado de Sistema de Água para Produção, na Comunidade Alto Alegre.

“Eu não pensei de hoje, eu com 54 anos, podia estar viajando, conhecendo os lugares, com um classificador na mão aprendendo alguma cosa. A gente acha que lugar de mulher é dentro de casa. Ontem a gente aprendeu a fazer a encanação com a bomba malhação, hoje vamos aprender a fazer o biofertilizante, o remédio para combater as pragas. Eu não esperava que fosse assim. E se eu puder ensinar a outras pessoas, como minhas irmãs, eu já passo para elas. Se a gente ficar em casa não consegue nada. Eu fui para todos os intercâmbios. Quanto mais você anda mais conhece gente”.

A agricultora está cheia de expectativas para quando o barreiro estiver construído na
Dona Antonina
propriedade. “Eu planto para o meu consumo e da minha família, não pretendo vender. Quero plantar minhas verduras e flores. Eu quero ter a água para o ano todo, pois carrego água da fonte para molhar as minhas coisas. Eu nasci e me criei na roça. Via meu pai e minha mãe fazendo isso, criando galinha caipira. Eu só abato um frango depois de 6 ou 7 meses. A gente mora na roça, tem a terra e tem água vai consumir coisa de fora para ter doenças? Se a pessoa puder evitar e consumir o que pode produzir é melhor”.

Técnicas que contribuem para a convivência com o semiárido

Os participantes do curso estavam empolgados para conhecer quais técnicas seriam apresentadas pela instrutora do curso, Reinilda de Oliveira. Muitas destas técnicas, já são praticadas pelos agricultores. No curso, eles tem a oportunidade de reciclar os conhecimentos e trocar informações.

“Esse momento é uma oportunidade de somar o conhecimento técnico ao saber popular dos agricultores. Observo que o curso auxilia os agricultores quanto as técnicas de convivência com o semiárido. Existe uma carência muito de grande assistência técnica. Muita coisa que trago para o curso eles já sabem, mais é preciso aperfeiçoar, juntar os saberes”, diz Reinilda Oliveira.

O curso tem o enfoque prático e os agricultores colocam a “mão na massa” e dão conta de tudo
biofertilizante feito com nim
que é proposto.  Eles confeccionaram micro aspersores com caneta que são conectados a bomba malhação no processo de irrigação.

Também produziram um inseticida natural que pode ser feito com nim.  A receita é simples. As folhas são batidas com água no liquidificador, o sumo é coado e após passar três dias na infusão pode ser utilizado no combate à pragas que surgem nas hortaliças, à mosca de chifre e o carrapato.

Outra técnica interessante foi a construção do canteiro econômico com garrafas pet.  O canteiro é feito com blocos e coberto com plástico. Para substituir o cano, podem ser utilizadas garrafas pet conectadas, com furos a cada 10 cm. Elas ficam cobertas com telha e terra, assim o canteiro está pronto para o plantio.

A visita de campo foi outro momento de aprendizado. “Eu gosto de receber o pessoal, de conversar e aprender. Se eu tivesse tido estudo acho que seria um professor, por que eu gosto de ensinar”, disse Valdomiro Santana, Seu Valdo, que recebeu os 24 agricultores/as durante uma visita a sua propriedade. Ele e a esposa Rosa comercializam hortaliças na comunidade, depois que conquistaram a cisterna de enxurrada realizaram o sonho antigo de produzir e viver disso.


Família de Seu Valdo, ao lado a esposa Rosa e a filha
“Eu tinha na minha cabeça vontade de trabalhar com horta, mas não tinha água, aí quando surgiu a cisterna a gente agarrou com as duas mãos. Eu tava em Minas quando minha mulher me falou da cisterna, eu disse que a gente tinha que fazer de qualquer jeito. Quando eu cheguei já fui colocando a mão na massa, e já comecei com a horta. Eu tinha a vontade mais não tinha os meios. Com os cursos que Rosa participou me animei, abracei logo essa ideia de trabalhar a horta com o plástico. E tou aqui até hoje, estamos sempre aprendendo, e vendo que precisa saber mais, as pessoas vem e incentiva a gente a tá investindo nisso”, diz Seu Valdo com muita alegria.