Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Água (22), famílias celebram o acesso à água de qualidade para beber, cozinhar e para dessedentação animal. O acesso à água, que historicamente vem sendo negligenciado para famílias agricultoras do semiárido brasileiro, ao longo da última década se torna cada vez mais realidade, fruto da longa caminhada dos movimentos sociais e organizações dessa região, que lutaram para efetivação de políticas que garantissem esse acesso.
Uma dessas iniciativas já vem sendo implementada como política pública do Estado brasileiro e é resultado concreto da mobilização de lutas enfrentadas por organizações ligadas à Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), a exemplo da APAEB Serrinha. Como ações concretas estão o Programa Um Milhão de Cisternas, que já alcançou o número de 419. 178 cisternas de placas construídas para armazenar água de consumo humano, e as diversas tecnologias, como a cisterna-calçadão, barragens, barreiros, tanques de pedra, voltados para garantir água para produção de alimentos e para o consumo dos animais através do Programa Uma Terra e Duas Águas, executado na região pela APAEB. Ambos os programas executados pela ASA e constituídos como política efetiva de acesso água no país.
Para quem a seca não é um problema insuperável - O Dia 22 de março foi criado pela Organização das Nações Unidas - ONU em 1992, desde então a data é destinada à discussão sobre os diversos temas relacionados à água no planeta.
Os debates em torno da preservação e do acesso à água se tornam mais evidentes durante essa semana nos meios de comunicação, redes sociais e organismos que militam em torno da questão. Em muitas dessas abordagens a seca no Nordeste e falta de água ganham destaque amplo, mas as soluções para enfrentar as questões climáticas ainda são pouco divulgadas.
Embora o acesso à água ainda não esteja universalizado, ou seja, muitas famílias ainda precisam ser incluídas em políticas públicas e terem o seu direito assegurado, outras tantas famílias são exemplo de como o investimento nas tecnologias sociais tem sido um meio de garantir o armazenamento de água nas propriedades por meses.
É o que conta o casal Idelmiro Soares de Oliveira e Iraci Ferreira de Oliveira, agricultores familiares na Comunidade Mandassaia III, no município de Riachão do Jacuípe, que estão felizes por terem suas cisternas cheias e garantirem a produção de alimentos para o sustento da casa.
Mesmo sem chuvas, eles estão conseguindo manter a produção de alimentos e a criação de pequenos animais, e afirmam que a seca nunca foi problema para a comunidade, onde não choveu nem do dia de São José, conhecido como o santo das chuvas para produção de milho e amendoim, conforme diz a tradição e a fé religiosa do nordestino.
Seu Idelmiro mostra a cisterna de enxurrada cheia |
“Nunca mais precisei ir à rua comprar nada, de tudo eu plantei um pouquinho, para conservar, a gente tá esperando a chuva de São de José, mas eu tenho o pimentão, a cebolinha, o coentro, o alface, a cebolinha, o couve. O sol não prejudica porque eu coloquei essa tela que não deixa secar tudo. Eu vendo e consumo em casa. O pessoal pega aqui e eu levo ali para feirinha e Riachão, mas no geral sempre acaba por que o povo procura muito aqui em casa”, diz seu Idelmiro, mostrando os canteiros de hortaliças, e o gado bem alimentado com ração feita de palma e folhas que ele mesmo produz.
Hortaliças em geral podem ser encontradas no quintal próximo a cisterna |
A família foi beneficiada com a cisterna consumo, de 16 mil litros e a de produção pelo P1MC e Projeto Cisternas. “Tenho uma cisterna de 58 mil litros de água para molhar minha hortinha e os animais beberem, ela não é uma água própria para beber, mas para os animais dá. Nós estamos felizes por que aqui nunca faltou água, aqui perto tem o rio, e a minha cisterna já sangrou [encheu] por mais de dez vezes”, afirma o agricultor.
Dona Iraci coloca a ração de palma e folhas para o gado |
Dona Iraci, que divide as tarefas com o marido fala da felicidade de ter a água perto de casa. “Ter minha cisterna aqui perto para molhar a horta, sem ter que buscar mais longe a água, é bom, para gente aqui é só felicidade, por que a água não falta, a gente cria poucos animais, para economizar na ração e na água, se criar muitos morre, o que temos dá pra gente viver bem”, enfatiza a agricultora mostrando as cisternas cheias de água, e esperança pela chegada da chuva.
A experiência dessa família poderá
ser conferida na proxima edição do Boletim de Experiência "O Candeeiro",
publicação da ASA e APAEB Serrinha.
O gado bem alimentado, é criado em pequena quantidade
como estratégia de economia de alimentos e água
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