30 agosto, 2011

Partilhando experiências e valorizando o saber do outro

Visitas de Intercâmbio se tornaram o diferencial dentro das ações de programa da ASA
 
No contato com o outro, o homem e a mulher do campo têm visto de perto experiências exitosas de convivência com o semiárido. Percorrer distâncias de um estado para outro a fim de conhecer o que está sendo feito em realidades bem parecidas com a que se vive é um dos desafios das Visitas de Intercâmbios, realizadas pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). A atividade foi realizada entre os dias 24 e 26 de agosto e faz parte da metodologia adotada pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), que visa potencializar a participação das pessoas e a troca de conhecimentos.

Com um grupo de 20 pessoas dos municípios de Andaraí, Retirolândia e Mairi, o ônibus partiu de Serrinha e percorreu aproximadamente 632 km, para chegar ao seu destino, o município de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco, lugar onde muitas experiências iriam despertar curiosidade e incentivar os participantes a colocar em prática os aprendizados no retorno para suas casas.

Foram visitadas seis experiências, em algumas delas foi possível conhecer o biodigestor em diferentes fases de implementação, até chegar à produção do gás de cozinha. Propriedades organizadas de acordo com os princípios da agroecologia e o manejo de algumas tecnologias de água para produção de alimentos, como o tanque de pedra, a barragem subterrânea e a cisterna-calçadão também fizeram parte do roteiro.
O casal, Dona Leda e Seu José

Grupo reunido em outra propriedade, a de José João de Souza, Seu Deda
 A partilha da experiência- Entre diversas experiências visitadas está a do casal Leda Maria e José Ribeiro de Lima, que vivem num sítio da comunidade de Monte Alegre. Na propriedade eles acumulam boas práticas que puderam ser conferidas por todos. “Eu tenho a cana, que vendo o caldo na feira, a horta comunitária, as fruteiras, o mel, e as mudas agroecológicas. É tudo orgânico, coisa da terra, não lido com veneno, agrotóxico, qualquer fruta minha aqui você vê o sabor diferente. Quem quer comprar, nos procura, tudo que eu planto na minha barragem é muito doce, é a maior riqueza do mundo”, ressalta Seu José, com orgulho.

Dona Leda considera importante a troca de informações que sempre acontece durante as visitas. “O mais importante é que a gente recebe informação de quem vem e dá informação daquilo que as pessoas não sabem, é um repassando para o outro”, afirma ela.

Sobre a experiência com o biodigestor ele fala da dimensão que terá na rotina da família e os benefícios ambientais. “O gás só falta na hora que a gente mais precisa, com o biodigestor vai ser de grande ajuda para a casa e para renda familiar. Além disso, contribuiu com o meio ambiente, vamos deixar de queimar a madeira. Com o biodigestor completa tudo”.

A organização que acompanhou o grupo durante as visitas foi a Diaconia, entidade que também desenvolve o programa na Região do Sertão do Pajeú. Para Mário Farias Junior, coordenador da Unidade Territorial e do P1+2, o intercâmbio é o diferencial do projeto. Acredito que nenhuma teoria vai superar a prática, aquilo que você visita in loco. Aprendi muita coisa nessa vida conhecendo agricultores, trocando idéias e experiências. Uma das portas para a construção do conhecimento é o visitar, é o perceber a partir do que você vê e ouve. É diferente de um jornal que você lê, de um livro, do computador em que você acessa um site, aqui ao vivo e a cores, as pessoas podem se encontrar, podem se olhar, se tocar e interagir”.

Estímulo para seguir em frente- Para alguns a viagem durou mais que um dia, entretanto eles/as garantem que valeu a pena. Dona Eliene Trindade Rios é líder da comunidade de Maracujá, em Mairi, que fica a 184 km, do município de Serrinha. “Achei ótimo, por onde eu passei vi coisas boas. Eu recebi a minha cisterna e vi que as daqui estão organizadas, tem o plantio das hortas, aprendi que eu planto diferente, mas também aprendi outras formas. Eu não queria vir, pois achava que não tinha capacidade de passar nada para as pessoas, eu cheguei aqui e vi que tenho. Fomos bem recebidos, o biodigestor também eu não conhecia. Lá eu vou tentar fazer o canteiro econômico, quando eu chegar já vou tentar, e vou ensinar a quem não sabe. O que estou aprendendo aqui, eu vou levar para minha comunidade”.