Grupo foi acolhido com a Dança do Coco |
Dona Lenita emocionou os visitantes com sua história de vida |
O segundo (28) dia do Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido foi marcado por visitas de intercâmbio às comunidades, onde os participantes do evento conheceram histórias de luta e conquistas de homens e mulheres que fazem do semiárido um lugar viável através das suas experiências.
Entre as doze comunidades que foram visitadas estava a de Dona Otacília Brasileira Avelino e os três filhos que moram com ela. Dona Lenita como é conhecida, vive no sítio Evangelista, na Comunidade Angélica, em Buíque, Pernambuco e junto com moradores e lideranças locais ela acolheu os participantes, que foram recepcionados com a apresentação do samba do Coco, uma expressão cultural da própria comunidade que envolve os adolescentes.
Após essa acolhida, o grupo pôde conhecer o processo de luta da comunidade, que através da mobilização social conquistou projetos e aos poucos tem a sua realidade modificada, como conta Santina, presidente da associação comunitária. “Muitos projetos foram chegando como o de bovinocultura, através da Pastoral da Criança e Fundo Solidário, melhoria genética para pintos, a experiência do banheiro seco e a energia elétrica, mas aqui ninguém decide nada sozinho, tudo é o povo quem aprova durante a assembleia da associação”, ressalta Santina.
A comunidade aos poucos foi encontrando o caminho da organização através de ações desenvolvidas pela associação e parceiros, foi nesse contexto que Dona Lenita e seus filhos estavam inseridos, e puderam reverter a história sofrida, em momentos de conquista e alegria. A agricultora teve a vida marcada por lutas e muito trabalho, após casamento o marido precisou viver em São Paulo para melhorar a renda da família. Dona Lenita ficou em casa lutando para sustentar os filhos. Com a morte do esposo, a situação se complicou ainda mais, porém com o despertar da comunidade para a mobilização, a vida de Lenita começou a mudar.
“Após a chegada da cisterna as coisas ficaram melhor, já tinha água perto de casa, para mim e meus filhos, e não foi só isso, outros projetos como o da cabra chegou por que crianças estavam muito fracas, depois veio a cisterna de produção e ainda o banheiro seco, tudo isso junto mudou demais a nossa vida”, partilha Dona Lenita com o grupo.
Um banheiro diferente- Uma das experiências inovadoras no semiárido que podem ser vistas na comunidade é o banheiro seco, onde os resíduos humanos são tratados com cinzas e serragem, no lugar da água. O material é aproveitado para a compostagem e a urina também é utilizada como fertilizante, a experiência foi implementada em 90 casas da comunidade pelo Centro Diocesano de Apoio ao Pequeno Produtor, organização da cidade de Pesqueira, sede do encontro.
Rosilda Camelo, agricultora do município de Tamboril, no Ceará considera Dona Lenita uma vitoriosa. “Foi muito proveitoso esse intercâmbio, eu estou levando para mim a forma como ela trabalha na propriedade, aproveitando os resíduos e produzindo alimentos de qualidade, sem agrotóxicos. A coragem dela de enfrentar as dificuldades, criar os filhos e conseguir realizar os sonhos dela, o desenvolvimento de usar as técnicas , é uma mulher vitoriosa”, afirma Rosilda Camelo.
Para João Evangelista, de Teresina, Piau, ela representa as muitas “Lenitas” do semiárido. “A história de Dona Lenita se junta a de muitas outras pessoas do semiárido brasileiro, a garra da mulher em encarar uma situação difícil de criar os filhos após a perda do marido, e a capacidade que ela teve de criá-los no seu pequeno sítio, chama atenção. Aqui também percebemos que o conjunto das tecnologias já consegue garantir uma integração no campo da água de beber e de produzir alimentos. Outra coisa que chama atenção é no campo sanitário, o banheiro seco para mim é novidade e a forma como ele é produzido” , ressaltou João Evangelista.