Mais uma pesquisa, desta vez realizada pela Universidade Federal de Pernambuco, ratifica a importância do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) como catalisador das mudanças sociais, políticas, econômicas e ambientais que vêm mudando a face do Semiárido brasileiro - de um lugar inóspito para outro que oferece vida digna aos seus habitantes.
Intitulada “Transições paradigmáticas: do combate à seca à convivência com o Semiárido nordestino”, a tese de mestrado escrita pelo geógrafo Emílio Tarlis Pontes será lançada em livro pela Editora Universitária. “Foi considerada como uma pesquisa de grande relevância para a área de estudo”, comenta o autor, acrescentando que a obra ainda não tem data definida para seu lançamento.
A área estudada para avaliar o impacto das cisternas foi a zona rural de Afogados da Ingazeira, município localizado no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, onde foi desenvolvido o P1MC desde a sua fase piloto. Lá, 900 cisternas foram construídas, dotando 40% dos domicílios rurais de um reservatório de água potável para consumo humano.
O autor observa que “a principal mudança constatada [com a disseminação das cisternas] foi o rompimento dos velhos hábitos de favorecimento pessoal como vínculo de dominação no Semiárido nordestino”. E conclui: “O P1MC é um programa com grande eficiência em sua concepção e, assim sendo, é possível galgar novos projetos através da organização popular, nas diversas entidades aptas a mobilização, propondo e reivindicando ações públicas correspondentes aos interesses reais dos moradores e do Semiárido.”
No estudo, as cisternas de placas que captam e armazenam água de chuva com a finalidade de abastecimento humano são analisadas sob duas perspectivas: da eficácia do equipamento em si mesmo, incluindo a adequabilidade, a durabilidade e a capacidade de satisfação de necessidades; e do seu significado, enquanto expressão da possibilidade de convivência.
De acordo com Naidison Baptista, coordenador executivo ASA Brasil e secretario executivo do Movimento de Organização Comunitária (MOC), articulação quer contribuir para um desenvolvimento do semiarido com sustentabilidade, e isso não se faz isoladamente.
“Uma pesquisa feita sobre a realidade do nosso trabalho, a partir da academia e que descobre acertos e lacunas em nossas práticas, contribui e muito para que possamos melhorar nosso trabalho. No caso concreto desta pesquisa ela chega num momento muito importante. Estamos no final de um Governo e elegendo novos governantes. É fundamental que eles conhecem estes processos, estas avaliação, para que estas e praticas semelhantes cada vez mais se transformem em polí¬ticas que possam transformar o semiárido num espaço viável de se viver”, afirma o coordenador.
Para o autor da pesquisa Emílio Tarlis Pontes, a experiência foi tão promissora que ele iniciou o doutorado para analisar o segundo programa da ASA, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), também no Sertão do Pajeú, sob a mesma perspectiva da quebra do paradigma do combate à seca.
Para o autor da pesquisa Emílio Tarlis Pontes, a experiência foi tão promissora que ele iniciou o doutorado para analisar o segundo programa da ASA, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), também no Sertão do Pajeú, sob a mesma perspectiva da quebra do paradigma do combate à seca.
Na Bahia, pesquisa analisa o impacto das cisternas na vida das mulheres
Através de oito oficinas que estão sendo realizadas com mulheres dos municípios de Araci, Coité, Riachão do Jacuípe e Serrinha, o MOC está buscando identificar qual o impacto das cisternas na vida das mulheres beneficiadas pelo Programa Um Milhão de Cisternas.
Segundo Selma Glória, integrante do Programa de Gênero do MOC, e que é umas coordenadoras da pesquisa, a conquista da cisterna significa muito mais que ter água em casa, por isso a importância de perceber quais são esses outros impactos.
“O objetivo é saber quais mudanças ocorreram na vida das mulheres e suas famílias a partir da chegada da cisterna, para além dessas mudanças, perceber a experiência de luta e convivência com o semiárido, identificando como o processo de aquisição da cisterna contribui para uma melhor organização política das mulheres e também da comunidade. Outros aspectos como manuseio da cisterna, conservação da água e as relações sociais de gênero são ponto fundamentais que também estão sendo analisados” , explica Selma. A oficina está sendo realizada com 15 mulheres que estão expondo seus depoimentos e trocando experiência.