23 novembro, 2012

VIII ENCONASA reuniu histórias, lutas e a diversidade do povo do semiárido


Durante toda esta semana uma diversidade de pessoas representando os estados do semiárido brasileiro compartilharam histórias, saberes e lutas no maior evento da rede ASA, o VIII Encontro Nacional da Articulação do Semiárido Brasileiro (EnconASA), que está acontecendo desde de 19 de novembro e se encerra hoje (23). 

A programação do evento ofereceu uma diversidade de atividades como a caminhada pelas ruas de Januária, cidade que sediou o encontro, marcando abertura do encontro. O destino final foi a Feira de Saberes e Sabores, que ficou disponível para visitas e as noites culturais em todos os dias do evento. Cada estado levou produtos para exposição e venda em stands, promovendo uma integração entre as culturas. O espaço da feira também propiciou aos participantes conhecer elementos da cultura mineira, através da apresentação de corais, cantores e tocadores de viola.

Visitas de intercâmbio – Um dos destaques do ENCONASA, a visita de intercâmbio já faz parte das últimas edições do evento. Este ano não poderia ser diferente, foram sistematizadas 20 experiências nos eixos de água, segurança alimentar, comunicação, comercialização, educação contextualizada, crédito, assistência técnica agroelogica, terra e território, sementes, auto-organização das mulheres.


Uma das experiências visitadas mostrou como a comunicação pôde contribuir para o empoderamento de uma comunidade. Através da rádio itinerante,  a comunidade que era invisibilizada no município devido aos  altos índices de desnutrição de suas crianças passou a valorizar sua gente e sua identidade depois de conquistar o direito de ter voz, falar e ser ouvida pelas ondas da rádio. 

Ainda no dia 21, data em que ocorreram as visitas foi realizado o debate acerca marco regulatório das organizações da sociedade civil. Segundo Ana Túlia de Macedo, Secretaria da Presid encia da Republica é preciso novas regras para regular atividade das OSC (organizações da sociedade civil) através de uma legislação específica. “ “A gente vive ainda um ambiente de insegurança jurídica, que é decorrente da ausência de uma legislação específica, que perceba a particularidade da atuação das organizações e a particularidade dessas parcerias”, afirmou Ana Túlia de Macedo, da Secretaria da Presidencia da Republica.
  
Após as visitas, no dia 22, os grupos se reuniram em oficinas com as mesmas temáticas da visita para debaterem. A oficina de comunicação trouxe o debate da comunicação como um direito, e sugeriu que a ASA desse um suporte a esta discussão. 

A mesa  da tarde do dia 22 discutiu a trajetória de lutas, avanços e desafios, com a participação de Silvio Porto, representando a CONAB e Naidison Baptista, coordenador da ASA, avaliando os 12 anos de trabalho da articulação, entre muitas falas ele fez um reconhecimento  da importância das comunidades no processo metodológico da ASA nesses 12 anos. "A metodologia da ASA é enraizada na comunidade , o modo da ASA trabalhar vem da comunidade . É com essa forma nossa de fazer as coisas que chegaremos a mais de um milhão de cisternas construídas. Fomos  capazes de emplacar uma política  e seremos capazes de emplacar outras. A ASA conseguiu projetar no mundo uma outra imagem do semiárido, que não é a de um lugar inviável, miserável, e essa nova leitura se deve a ASA. Em doze anos conseguimos quebrar algumas algemas que mantinham o povo aprisionado, o povo não se sente mais obrigado a votar em quem não representa seus direitos,mas ainda temos muitas outras algemas a quebrar. Temos muito mais a nos dedicar, não é mais apenas a água de consumo, de produção, agora queremos uma política para as sementes, uma política ampla de convivência com o semiárido”, afirmou Naidison Baptista.




Também reiterando esta nova linha de trabalho da ASA, Silvio Porto, representante da CONAB, afirmou que a iniciativa da ASA de investir nas estruturas de armazenamento são cruciais para o momento que o país vem vivenciando. “O Brasil passa por um contexto em que o desemprego ainda é muito presente, e ter essas iniciativas produzidas pela ASA é sim um bom exemplo de como o país  pode superar a pobreza. Acredito que essas iniciativas de casa de sementes será muito importante e sem dúvida uma grande tarefa. Armazenar alimentos para pessoas e animais é uma grande alternativas e vocês agricultores já fazem isso”, ressaltou Silvio Porto.

“A ASA não tem condições de abarcar tudo, mas ela vai contribuir e apoiar outras dimensões, como a luta pela terra se relacionando com os organismos que já fazem isso, outra questão forte é a educação do campo, precisamos olhar como promover a interelação com a rede que existe precisamos nos abrir para outras questões que vão além do campo”, concluiu Nadison Baptista. 

Expectativas para o trabalho da ASA 

A partir da universalização das cisternas de 16 mil litros de água para consumo humano, a ASA vem de um processo de reflexão sobre o futuro de suas ações para convivência com o semiárido, segundo Valquíria Smith, coordenadora da ASA Minas, o acesso a água ainda é desafiador, mas outras questões se mostram de fundamental importância. 

“O acesso à água ainda te desafios. Ao mesmo tempo em que o governo investe em políticas públicas de apoio a cisternas de captação de água da chuva, e tecnologias de armazenamento de água de chuva para a produção de alimentos, ainda nos deparamos com grandes barragens, com grandes obras, com tecnologias que não são adequadas para resolver o problema de acesso à água no semiárido brasileiro.
Também existe um grande desafio no que se refere ao acesso à terra. O semiárido brasileiro não é só uma região que concentra água, mas também uma região que concentra terra. O acesso à terra, seja via reforma agrária, seja pelo reconhecimento das comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas, ainda não foi resolvido, e ele é fundamental para melhorar a qualidade de vida e fortalecer a agricultura famili  camponesa. Também são fundamentais políticas de soberania, de segurança alimentar, de distribuição de sementes” afirmou Valquiria Smith, da coordenação da ASA Minhas

O ENCONASA e os seus siginificados

O ENCONASA é o evento que tem como objetivo discutir diretrizes para a Articulação, mas  assume o papel importante de integrar os estados, trocar experiências, saberes e sabores, para Dona Graciele de Jesus, de Chapadinha no Maranhão é o momento discutir as problemáticas do semiárido e divulgar seus produtos.

“É o momento que a gente ente está discutindo o problema de vários estados e os problemas são idênticos e estamos nessa luta para mudar a vida no semiárido. Também é espaço para divulgar e vender nossos produtos com os vários estados”, ressaltou Gracilene de Jesus Almeida, agricultora experimentadora que trabalha com  os produtos derivados do babaçu no Maranhão.

Para José Jamilton Neves,  agricultor familiar e animador  de Aparecida na Paraíba, esse encontro tem um significado  muito importante devido ao poder de integração. “O significado é muito grande, é o terceiro Enconasa que participo, esse encontro trás muitas espectativas, aqui a gente vem debater as dificuldades os desafios, a importância é integração de pessoas , a gente troca experiências  o guardas das sementes  , meu objetivo é trazer conhecimento e levar, aqui eu vi que a gente está pensando novas coisas para melhorar a vida no semárido”, afirmou José Jamilton, da Paraíba.